terça-feira, 24 de agosto de 2010

A visão das crianças IV

Não sei o que se passou no outro dia. Estava feliz e comecei a dançar na casa de uma tia minha, mas estavam todos carrancudos e com uns olhares tristes e quando me viram dançar olharam para mim como se tivesse partido alguma coisa.
Depois vieram-me dizer que essa tia tinha morrido e que estavam ali aquelas pessoas todas reunidas porque vieram prestar-lhe uma última homenagem. E eu fiquei confuso, porque pelo que me lembro dessa minha tia ela adorava dançar…
Não percebo porque é que ficou tudo tão chateado quando eu comecei a dançar ao ritmo do piano. A música era mesmo linda, era uma das que ela costumava ouvir. Aposto que tinha dançado comigo se estivesse ali.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A visão das crianças II

Ontem vi um senhor negro a passear na rua. Ele tinha um chapéu muito giro e eu parei à frente dele e perguntei-lhe se mo podia emprestar para ver como me ficava.
Ele fez um grande sorriso (nunca tinha visto um sorriso como o dele) e emprestou-me o chapéu.
Outro senhor, mas desta vez branco, passou por nós e perguntou-me se eu conhecia aquele senhor.
E eu disse-lhe que não.
E ele começou a falar de uma maneira estranha com o senhor negro e eu fiquei assustado. De chapéu na mão virei-me para o senhor branco e disse:
- Também pode experimentar se quiser.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A visão das crianças I

O Arco-íris era lindo, gostava que o tivessem visto como eu o vi. Com aquelas cores todas… Eu ainda procurei pelo pote cheio de doces mas nem consegui achar o fim do Arco-íris.
Eu acho que o meu avô me enganou, acho que não existe pote nenhum. Não acredito que ele foi capaz de me mentir outra vez, como daquela vez em que me disse que o Pai Natal existia e fui a descobrir no outro dia que era mentira. Porque me dei conta que quem fazia de Pai Natal era o meu avô.
Já só me falta dizerem que o coelho da Páscoa não existe!
Ainda por cima agora que estamos perto da Páscoa, se me disserem isso juro que passo a não acreditar em mais nada.
Não sei porque é que os adultos mentem. É uma coisa muito feia e eu não quero tornar-me mentirosa como eles!
Será que tenho mesmo de crescer?!
Quanto mais cresço mais descubro que tudo aquilo em que alguma vez acreditei não passa de uma mentira.
Eu não quero que tudo seja uma mentira!
Quero acreditar em algo verdadeiro, como o Arco-íris!
Que é sempre bonito, apesar de às vezes estar escondido pelas nuvens.
Esse, eu sei que é verdadeiro, porque eu vi-o!
Ninguém me disse…

Esperança

O que mais gosto nas crianças é a esperança que contêm dentro delas. Em cada gesto, em cada movimento, em cada sorriso e em cada abraço. O mundo pode acabar no dia seguinte mas para elas cada momento é único e especial e fazem dele uma festa.
A esperança que elas propagam é imensa e dá vontade, quando elas estão por perto, de não desistir de nada. Dá vontade de dar tudo para sermos um pouco melhores, pessoas melhores... Com elas por perto parece que há sempre uma razão para viver e existe sempre uma saída ao fundo do túnel.

Se um dia não conseguir ver essa luz vou-me lembrar das pequenas criaturas deste mundo e vou-me lembrar em ser uma delas outra vez, vou-me lembrar que o ser criança não significa ter menos de 10 anos ou 8 ou 5, significa que no fundo da nossa alma mantivemos a esperança...

Isso é o mais importante e é o que mais gosto nas pessoas em geral; gosto daquelas que dentro delas têm uma caixinha de esperança que, como as crianças, gostam de espalhar pela vida.